sexta-feira, 25 de novembro de 2016

500 anos de hieronymus bosch

Na série "obras do Masp", publicamos em 2011 os hieronymus bosch do masp .
A lembrança é válida por conta da data redonda dos 500 anos da morte do pintor holandês.
Abaixo, um artigo de Walnice Nogueira Galvão publicado no blog do Nassif .

O V Centenário de Hieronymus Bosch, por Walnice Nogueira Galvão


O V Centenário de Hieronymus Bosch
por Walnice Nogueira Galvão
Os 500 anos da morte do grande pintor foram alvo de muitas celebrações,  a mais visível sendo a do Museu do Prado, em Madri, esplêndida pinacoteca que disputa fácil a palma de melhor do mundo. Sua proeminência depende, como costuma ser o caso, do número de anos que a potência ocupou outros países e se fartou de pilhá-los, arrebatando seus tesouros para a metrópole. O Prado é um desses casos, oferecendo ao visitante um resumo da história do mundo e do imperialismo.
Talvez já se tenha perdido de vista o quanto a Espanha foi opulenta e poderosa no passado, mas o acervo do Prado refresca a memória. Pois é lá que, entre outras coisas, existe uma coleção extraordinária da chamada pintura flamenga, aquela que foi produzida na Holanda e na Flandres belga, sendo divergente da pintura renascentista que iria predominar na Itália e a partir dali no resto do mundo. Nada de formas arredondadas e amplas, perspectivas que se desenrolam, temas elevados, cunho majestoso e até monumental, bem mediterrâneo - características da pintura italiana. Na flamenga tudo é mais gótico, angular e rígido, com laivos nórdicos, bem como miudamente verista e menos grandioso. A fidelidade  ao realismo mais chão é sobretudo burguesa, já que esses países são burgueses avant-la-letre.
(continua em "mais Informações")

domingo, 6 de novembro de 2016

um olhar sobre a mostra internacional de cinema de são paulo

A Mostra deste ano trouxe reflexões sobre o mundo que vivemos. Pena que, ainda que os espaços das salas sejam sempre muito disputados, essas reflexões acabam ficando concentradas num público que já está previamente interessado e aberto a essas reflexões. Essa Mostra teve claramente um caráter ainda mais político do que costuma ter. Além dos filmes de Bellochio e de Wajda, trouxe muitos dos temas contemporâneos: os conflitos políticos, os refugiados, os esquecidos, as guerras, os cantos do mundo... Tudo aquilo que a grande mídia ocidental evita mostrar e que foram apresentadas, não só nos filmes produzidos em países latino-americanos ou em países como Síria, Iraque, Afeganistão, Irã, Tunísia ou europeus como Polônia (com muitos novos diretores), Grécia, Eslováquia, República Tcheca, Romênia, Bulgária, Islândia, mas em filmes produzidos na França/Bélgica - como "O Caminho para Istambul" - ou mesmo nos EUA - como "Cameraperson" que tratam de questões emergentes de um novo ordenamento mundial, ou ainda filmes coproduzidos entre França/Alemanha/Irã ou Filipinas/Singapura ou Malásia/Filipinas ou Síria/Líbano ou ainda Síria/Iraque que produziram o excelente documento "A Vida na Fronteira" - comentado nos pitacos da mostra mais abaixo - entre muitos outros.
Num mundo em que até as comoções são seletivas - vide as diferenças das coberturas midiáticas de um atentado na Nigéria e outro em Paris -, a Mostra tem um caráter plural de mostrar um mundo sem filtros, além daquele que nos é apresentado. Neste tempo em que a reflexão é tão combatida e substituída pela vida padronizada e comprada, a Mostra é uma pequena boia de salvação.

sábado, 5 de novembro de 2016

neste momento crítico do país, resgatamos "a hora da despedida", por josé castelo

O momento pelo qual passamos é muito preocupante. Acabamos de sofrer um golpe no país e, à reboque, temos visto um insulto às instituições que fomentam a cultura e a formulação do pensamento. Em setembro de 2015, o crítico de literatura José Castelo foi dispensado da sua coluna de literatura "Prosa" que tinha no jornal O Globo.
A mídia, de uma forma geral -e as organizações Globo em particular-, prepara um novo ambiente para os próximos tenebrosos anos que teremos e um dos pontos estratégicos é esse, o de inibir a formulação de pensamentos. Este empório entende por bem recuperar o último texto da coluna de José Castelo, na sua "Hora da despedida" que antecipava este momento que vivemos, mas mantém no seu espaço de "literatura", o link dos arquivos dos seus ótimos textos.

Hora da despedida

POR JOSÉ CASTELLO
Chegou a hora de me despedir de meus leitores. Não é um momento fácil _ nunca é. Mas ele se agrava porque, com o fechamento do "Prosa", incorporado ao "Segundo Caderno", desaparece um último posto de resistência na imprensa do sudeste brasileiro. Os suplementos de literatura e pensamento já não existem mais. Um a um, foram condenados e derrotados pela cegueira e pela insensatez dos novos tempos. Comandado pela vigorosa Manya Millen, o "Prosa" resistia como um último lugar de luta contra a repetição e a dificuldade de pensar com independência. Isso, agora, também acabou.
(continua em "mais informações")