sexta-feira, 27 de maio de 2016

antonio cândido fala de guimarães rosa

Um intervalo no golpe para uma boa prosa com Antonio Cândido, só para esquecermos, por alguns instantes, a estupidez humana.

terça-feira, 24 de maio de 2016

golpe: o monstro de três cabeças

O vazamento das conversas de Sérgio Machado e Romero Jucá escancara aquilo que todos já sabiam: primeiro que houve de fato um golpe e que o golpe não é apenas resultado do binômio entre oposição e o oligopólio midiático. O golpe contou com o seu terceiro e fundamental elemento: o aparato jurídico do país. O golpe é como como Cérbero, o monstruoso cachorro de três cabeças da mitologia grega.
A PGR e o STF tinham conhecimento das gravações das conversas desde março e sabiam, portanto, do desvio de finalidade do impeachment, como bem aponta o Nassif , e nada fizeram. O STF também teve a oportunidade de colocar ordem no país três dias antes do circo de horrores ocorrido no dia 17 de abril embaixo da lona armada no Congresso Nacional e resolveu enfiar a cabeça no buraco cavado no assoalho da corte magistral.
Agora, mesmo num momento absolutamente surreal da nossa cena política atual, o Brasil estaria inaugurando para o mundo, o movimento do hipersurrealismo, se essa bomba atômica for transformada em uma biribinha. Não podemos nunca subestimar, entretanto, capacidade de articulação dos arquitetos do golpe, sobretudo pelo fato de terem o apoio da incrível capacidade de construção de uma narrativa muito peculiar dos donos da comunicação do país.

Além do link do Nassif acima destacamos o artigo do jornalista Glenn Greenwald no intercept, de Kiko Nogueira no DCM e de Paulo Moreira Leite no 247.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

"apocalipse do jornalismo"

A jornalista Vera Guimarães teve uma oportunidade única. Ela foi ombudsman da Folha de São Paulo entre maio de 2014 e abril de 2015. (Este empório publicou um artigo em 21 de fevereiro deste ano sobre o jornal e também sobre a ombudsman. Pode ser lido aqui).
Este foi um período que ficará marcado como um dos mais tenebrosos na história do nosso jornalismo. Um período em que alguns dos mais elementares princípios da ética jornalistica foram olimpicamente desrespeitados em favor de uma campanha que tinha como objetivo a derrubada de um governo. Vera Guimarães teve, assim, farto material para apontar esse desvirtuamento do nosso jornalismo mas optou pela omissão, por críticas sobre assuntos periféricos, ou, muitas vezes, pela defesa do jornal. A tarefa hoje cabe à Paula Cesarino Costa que está na Folha desde 1987. Vamos aguardar.
Mas esta postagem tem o objetivo de reproduzir o artigo do jornalista Mário Vitor Santos que foi, este sim, um dos maiores ombudsmans que passaram pela Folha. O texto é devastador e imperdível para quem queira analisar o nosso jornalismo tupiniquim. Foi publicado na Folha na seção Tendências/Debates no dia 18/05. Vamos a ele.

Apocalipse do jornalismo
 A ruptura institucional em via de ser completada no Brasil é resultado direto da degradação do jornalismo posto em prática por quase todos os meios de comunicação no país. Os cuidados éticos foram sacrificados a tal ponto que o jornalismo promove a derrubada de uma presidente até agora considerada honesta.
Jornalismo deve informar os fatos de pontos de vista diferentes e contrários, encarnar ideias em disputa, canalizar o entrechoque de versões, sublimar antagonismos.
Veículos brasileiros, ao contrário, quase todos em dificuldades financeiras e assediados pelos novos hábitos do público, uniram esforços na defesa de uma ideia única. Compactaram-se em exageros, catastrofismo e idiossincrasias. Agruparam-se de um lado só da balança, fortes para nocautear um governo, mas fracos para manter sua própria razão de existir, a autonomia.
(continua em "mais informações")

sábado, 14 de maio de 2016

a construção do golpe

Foto de Winton Junior
O golpe não começou a ser arquitetado após a vitória apertada de Dilma Roussef em outubro de 2014. A construção do golpe é bem anterior. Remonta 2005 com a narrativa do Mensalão, elaborada pelo convênio jurídico-midiático, como este empório já apontava em outubro de 2012, com o artigo o risco que corremos . A efetivação do golpe aguardava apenas o momento mais apropriado e, para alcançá-lo, contou com a campanha negativa cotidiana da mídia desde o dia seguinte à posse da presidenta.
Em artigo publicado na Carta Maior, Maria Inês Nassif destrincha esse período de forma didática. Reproduzimos o artigo abaixo.

Maria Inês Nassif
Anderson Riedel/ VPR
A estratégia do golpe institucional, com papel ativo do baixo clero do Legislativo e de instâncias judiciárias (o juiz de primeira instância Sérgio  Moro e o Supremo Tribunal Federal), e ação publicitária dos meios de comunicação tradicionais (TV Globo e a chamada grande imprensa)  começou a ser desenhada no chamado Escândalo do Mensalão. Um ano antes das eleições presidenciais que dariam mais um mandato ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o país foi sacudido por revelações de que o PT usara  dinheiro de caixa dois de empresas para pagar as dívidas das campanhas das eleições municipais do ano anterior, suas e de partidos aliados. O tesoureiro do partido, Delúbio Soares, era o agente do partido junto a empresários e a uma lavanderia que até então operava com o PSDB de Minas, a agência de publicidade DNA, de Marcos Valério. Delúbio tornou-se réu confesso. Outro dirigente do partido, Sílvio Pereira, foi condenado por receber um Land Rover de presente de um empresário.
 (continua em "mais informações)

quinta-feira, 12 de maio de 2016

frases da imprensa européia hoje sobre o brasil

(matéria completa no GGN)

Uma nação "que queria ser moderna recua no tempo e se coloca ao lado de Honduras e Paraguai como países onde presidentes eleitos foram afastados de forma questionável", do Spiegel Online, da Alemanha.

Para o correspondente do site, Jean Glüsing, "o grande e orgulhoso Brasil terá que se resignar a, no futuro, ser citado por historiadores ao lado de Honduras e Paraguai – e não só por causa de apresentações bizarras de seus representantes populares." 
Pare ele, o "espetáculo indigno" apresentado pelos políticos brasileiros "prejudicou de forma duradoura as instituições e a imagem do país". 
Na análise do semanário Die Zeit, o afastamento de Dilma é "a declaração de falência do Brasil". O jornalista Michael Stürzenhofecker afirma que o país queria se apresentar como uma nação moderna com os Jogos Olímpicos, mas o processo de afastamento de Dilma é um "recuo nos velhos tempos" e também os 31º Jogos não serão realizados numa "democracia sem máculas".
Frankfurter Allgemeine Zeitung analisa o processo como "uma marcante guinada à direita" .
No Reino Unido, o jornal The Guardian diz "O impeachment é mais político do que jurídico".
O El País, nesta quarta-feira publicou um editorial chamando o processo de impeachment de "irregular".
O francês Le Monde diz que Temer e sua comitiva estavam prontos para o sacrifício. O homem, puro produto do sistema político brasileiro, conhecedor das intrigas parlamentares, descrito pela comitiva da presidente brasileira como um 'conspirador', 'traidor' e um 'ejaculador precoce', que pensa há meses no trono, está prestes a chegar ao degrau mais alto do poder".

"tanga, deu no new york times?", filme de henfil, atualiza o brasil

Nos anos 80 Henfil criou uma sátira parodiando o Brasil, terra das bananas. O país imaginário era "Tanga", mas pode chamar de Brasil.

laerte explica o golpe

(republicando)

terça-feira, 3 de maio de 2016

cineasta se retira de festival em protesto contra convite a fhc


Da página Luta pela democracia, no Facebook 
Quinta-feira, dia 26, a direção do Festival de Cinema da Associação de Estudos Latino-americanos recebeu carta da cineasta, jornalista e professora-pesquisadora Anita Leandro retirando seu filme Retratos de Identificação da programação da mostra. A causa foi o convite que os organizadores do XXXIV Congresso da LASA fizeram ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um dos mentores do golpe parlamentar em andamento, para realizar uma conferência sobre a evolução da democracia institucional.
Em carta aberta aos espectadores e espectadoras do Festival, a pesquisadora da UFRJ explica suas razões: 
"Enquanto eleitora e cidadã brasileira, defensora do respeito às regras do jogo democrático, não posso admitir que o meu filme, que denuncia crimes ainda impunes da ditadura militar, seja projetado num evento que traz como convidado o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, um dos partidos articuladores do processo de impeachment sem base legal contra a Presidente Dilma Roussef ..."
Eis a íntegra da carta:
Carta aberta aos participantes do LASA Film Festival 2016
Caros(as) espectadores(as),
Lamento ter que retirar meu filme, Retratos de identificação, da programação do LASA Film Festival 2016. Mas trata-se, para mim, de uma obrigação cívica.
Enquanto eleitora e cidadã brasileira, defensora do respeito às regras do jogo democrático, não posso admitir que o meu filme, que denuncia crimes ainda impunes da ditadura militar, seja projetado num evento que traz como convidado o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, um dos partidos articuladores do processo de impeachment sem base legal contra a Presidente Dilma Roussef, eleita pelo voto direto pela maioria da população brasileira nas eleições de 2014. O ex-presidente e seu partido se unem às mesmas forças conservadores e golpistas que levaram o Brasil a uma ditadura militar em 1964 e a 21 anos de obscurantismo.
Alinho-me, aqui, àqueles que já subscreveram o documento pedindo a retirada do convite da LASA ao ex-presidente para falar sobre a evolução da democracia institucional, precisamente no momento mais frágil desse processo, quando o próprio Cardoso e seu partido “não hesitam em pôr em risco a paz interna e a democracia”.
O clima político no país se degenera, organizado por forças civis de centro, de direita e de extrema direita, com o apoio de ampla parcela da grande mídia e de juízes ligados a partidos políticos claramente insatisfeitos com o resultado das últimas eleições presidenciais. Esses grupos fizeram de um processo de impeachment uma tribuna de propagação de ideologias fascistas e apologia a crimes de tortura, extermínio, homofobia, misoginia, racismo de cor e de classe.
Seria uma honra atender ao amável convite para mostrar Retratos de identificação no LASA Film Festival em 2016. Mas, infelizmente, as circunstâncias atuais me impedem de fazê-lo.
Anita Leandro
Realizadora de Retratos de identificação



segunda-feira, 2 de maio de 2016