domingo, 14 de julho de 2013

hannah arendt e o caso eichmann


Poderia ser um roteiro de filme de ação e espionagem, com todos os clichês pertinentes a esses tipos de filme, mas em 1960, 15 anos após o fim da 2° Grande Guerra, o Serviço Secreto de Inteligência Israelense Moussad, atravessou o Atlântico e sequestrou em solo argentino, Adolf Eichmann membro da estrutura da Alemanha nazista que depois de percorrer alguns países da Europa desembarcou em Buenos Aires. Foi levado para Israel e lá julgado e condenado à morte. Ficaria conhecido como "O Caso Eichmann".
Na plateia do prédio do tribunal de Jesuralém em 1962, a filósofa alemã de origem judia, Hannah Arendt, designada pela revista The New Yorker, acompanhava o julgamento. Da absorção de tudo que presenciou, escreveu inicialmente um artigo e posteriormente um livro, "Eichmann em Jerusalém" que abordou uma questão muito maior que o  julgamento em questão, que ela trataria como "a banalidade do mal", vinculada aos seus estudos sobre o totalitarismo. Não entendida, diante do clamor acusatório, acabou ela sendo acusada de fazer a defesa de Eichmann.
Fazendo um recorte biográfico deste episódio, a diretora alemã Margareth Von Trotta convidou Barbara Sukova para viver Hannah Arendt.
A parceria de Sukova e Von Trotta repete o êxito de "Rosa Luxemburgo", filme dos anos 80. Nos dois casos, a escolha deliberada da ausência de recursos de um drama palatável à emoção fácil, que seria instigante para uma cinegrafia hollywoodiana, dada a natureza das tramas, torna a abordagem seca e direta. Há uma cena que resume essa escolha. Após a publicação do artigo, Hannah faz uma conferência na universidade  em que leciona e Von Trotta nos coloca na plateia, não cedendo a uma presumível emoção de uma lente mais fechada, cercada pelas fisionomias de espectadores que passam da perplexidade ao entusiasmo. Von Trotta não julga, mas nos instiga a ler "Eichmann em Jerusalém" e nos leva, sobretudo,  a refletir sobre a condição humana, tema que percorreu toda a trajetória da pensadora Hannah Arendt, que não gostava de ser chamada de filósofa.

Ps1:Abaixo um link de um filme produzido pela RAI e dirigido por Rony Brauman e Eyal Sivam que trazem as cenas originais do julgamento de Eichmann:
https://www.youtube.com/watch?v=ac9oM-ECXyQ )
Ps2: Este empório já fez uma crítica sobre uma informação sobre a banalidade do amor , peça dirigida por Antonio Abujamra que (tenta) tratar do relacionamento entre Hannah Arendt e Martin Heidegger.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

"as manifestações", por marilena chaui


As manifestações de junho de 2013 na cidade de São Paulo

por Marilena Chaui

Observações preliminares

O que segue não são reflexões sobre todas as manifestações ocorridas no país, mas focalizam principalmente as ocorridas na cidade de São Paulo, embora algumas palavras de ordem e algumas atitudes tenha sido comuns às manifestações de outras cidades (a forma da convocação, a questão da tarifa do transporte coletivo como ponto de partida, a desconfiança com relação à institucionalidade política como ponto de chegada) bem como o tratamento dado a elas pelos meios de comunicação (condenação inicial e celebração final, com criminalização dos “vândalos”) permitam algumas considerações mais gerais a título de conclusão.
O estopim das manifestações paulistanas foi o aumento da tarifa do transporte público e a ação contestatória da esquerda com o Movimento Passe Livre (MPL), cuja existência data de 2005 e é composto por militantes de partidos de esquerda. Em sua reivindicação especifica, o movimento foi vitorioso sob dois aspectos: 1. conseguiu a redução da tarifa; 2. definiu a questão do transporte público no plano dos direitos dos cidadãos e, portanto, afirmou o núcleo da prática democrática, qual seja, a criação e defesa de direitos por intermédio da explicitação (e não do ocultamento) do conflitos sociais e políticos.

O inferno urbano

Não foram poucos os que, pelos meios de comunicação, exprimiram sua perplexidade diante das manifestações de junho de 2013: de onde vieram e por que vieram se os grandes problemas que sempre atormentaram o país (desemprego, inflação, violência urbana e no campo) estão com soluções bem encaminhadas e reina a estabilidade política? As perguntas são justas, mas a perplexidade, não, desde que voltemos nosso olhar para um ponto que foi sempre o foco dos movimentos populares: a situação da vida urbana nas grandes metrópoles brasileiras. (continua em "mais informações")