sábado, 28 de abril de 2012

herberto helder

Herberto Helder é um dos maiores poetas da língua portuguesa atual. E, talvez, o mais enigmático.

Abaixo, Fonte - I






Ela é a fonte. Eu posso saber que é
a grande fonte
em que todos pensaram. Quando no campo
se procurava o trevo, ou em silêncio
se esperava a noite,
ou se ouvia algures na paz da terra
o urdir do tempo ---
cada um pensava na fonte. Era um manar
secreto e pacífico.
Uma coisa milagrosa que acontecia
ocultamente.

Ninguém falava dela, porque
era imensa. Mas todos a sabiam
como a teta. Como o odre.
Algo sorria dentro de nós.

Minhas irmãs faziam-se mulheres
suavemente. Meu pai lia.
Sorria dentro de mim uma aceitação
do trevo, uma descoberta muito casta.
Era a fonte.

Eu amava-a dolorosa e tranquilamente.
A lua formava-se
com uma ponta subtil de ferocidade,
e a maçã tomava um princípio
de esplendor.

Hoje o sexo desenhou-se. O pensamento
perdeu-se e renasceu.
Hoje sei permanentemente que ela
é a fonte.

       

sexta-feira, 27 de abril de 2012

quarta-feira, 25 de abril de 2012

quem foi otto gross?

(Atualização em 08/08/2018: ver 10°comentário mais abaixo, que indica matéria sobre Otto Gross)

Há uma curiosidade que surge em muitos que assistem ao filme "Um Método Perigoso": saber mais sobre Otto Gross - interpretado por Vincent Cassel -, figura anárquica que em dado momento do filme, em uma participação curta e decisiva, coloca todas as pulgas atrás da orelha de Jung em relação ao distanciamento que o analista deve, ou, mais propriamente,  não deve ter do analisado, ou paciente.
Gross foi um dos pupilos de Freud, além de ter sido paciente de Jung, fase retratada no filme.
Abaixo copio e colo a síntese sempre suspeita do Wikipédia e em seguida um link de um estudo mais aprofundado assinado por Wolfgang Schwentker.

"Otto Gross (1877 - 1920) foi um psiquiatra psicótico inspirador da teoria bleueriana da esquizofrenia. Gross foi atendido por Jung na segunda década do século XX. Este homem foi um dos primeiros responsáveis pela "liberação sexual". Havia elaborado um delírio segundo o qual o fim do mundo era iminente e não poderia ser evitado se o culto a Ishtar não fosse realizado de maneira imperiosa. José Maria Alvarez, no livro Fundamentos de Psicopatologia Psicoanalitica, nos conta que o culto em questão implicava uma luta contra o paternalismo e a prática intensiva de relações sexuais entre homens e mulheres - como forma de libertar estas últimas da alienação masculina -, tema este ao qual se entregava sem freio apoiando-se do uso de diversas drogas. Em razão de seus comportamentos desafiadores para a moral da época, foi também chamado por alguns de anarquista."  

http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_32/rbcs32_10.htm   

quinta-feira, 5 de abril de 2012

trilogia da psicanálise

Por sugestão do amigo, psicólogo e cinéfilo Mario Milanello, anoto (e dessa vez apenas anoto mesmo) três filmes que tratam de psicanálise. O primeiro, o já clássico, "Freud Além da Alma" de 1962 com roteiro de Sartre (*) e dirigido por Jonh Huston. O filme percorre a história do ínicio da psicanalise e os tormentos de Freud com as pressões da classe médica.
O segundo é "Jornada da Alma", de 2003, dirigido por Roberto Faenza com o enfoque na história de Jung com sua cliente e depois amante Sabina Spielrein.
Os dois filmes encontrados em DVD.

 
O terceiro está em cartaz em São Paulo:  "Um Método Perigoso", dirigido por David Cronenberg, que coloca  Freud, Jung e a paciente Sabina, naquilo que poderíamos chamar de um "triângulo psicanalítico".

Três formas de contemplação cinematrogáfica. No divã ou na poltrona.

(*)Alertado que fui, o roteiro final não é de Sartre.  Luiz Zanin nos relata: "Tocado pela aura de Freud, Huston tinha em mente um projeto ambicioso. Tanto assim que convidou ninguém menos que o filósofo francês Jean-Paul Sartre para escrever o roteiro. Sartre aceitou, demorou-se para entregar o texto e, quando o fez, este veio na forma de um calhamaço de centenas de páginas, definido por Huston como “infilmável”. Sartre não baixou o facho e, ofendido, comentou que diretores de cinema “ficavam tristes quando tinham de pensar”. Enfim, Freud, segundo Sartre, não foi para o celuloide. Acabou publicado em forma de livro (no Brasil pela Nova Fronteira, com 769 págs.).Dessa forma, o roteiro de Freud Além da Alma vem assinado por Charles Kaufman e Wolfgang Reinhardt que, se pode dizer, fizeram bom trabalho para Huston, fornecendo-lhe uma base sólida sobre a qual ele pudesse construir suas imagens. "

quarta-feira, 4 de abril de 2012

giacometti, de chirico e modigliani

Jean-Paul Sartre descreveu as esculturas de Giacometti como "retrato de todos os homens". O filósofo francês escreveu dois belíssimos ensaios sobre a obra de Alberto Giacometti, suiço-italiano nascido em 1901. Os ensaios foram publicados pela Editora Martins Fontes.
A oportunidade de mencionar os ensaios de Sartre se dá pela grande exposição de Giacometti aberta em março e que ficará até 17 de junho na Pinacoteca de São Paulo contando com 280 obras. Seguirá para o Rio, no MAM, e encerrará esse curto ciclo sulamericano em Buenos Aires a partir de outubro.
Giacometti não é, propriamente, um artista popular, mas suas obras sempre causaram grande fascínio. Em 2010 um exemplar de "O homem caminhado I" alcançou em um leilão em Londres a exorbitante quantia de 65 milhões de libras.
Véronique Wiesinger, curadora da mostra e diretora da Fundação Alberto e Annette Giacometti tenta resumir: "A arte de Giacometti é muito generosa, já que fala para todos. É como um buraco negro no qual você é estimulado a depositar tudo que está dentro de você: memórias, sensações, visões, experiências" . Essas sensações talvez sejam a razão das enormes filas que têm se formado quase todos os dias em frente à Pinacoteca.

Em São Paulo uma outra grande exposição: a do artista grego Giorgio De Chirico, " o sentimento da arquitetura".
Nascido no final do século 19, De Chirico influenciou não só muitos artistas, mas também um  movimento, o surrealismo, ainda que de uma forma indireta. As formas de um delírio pictórico, não representavam os sonhos, base do surrealismo, mas a visão metafísica do artista inspiraram os surrealistas a transgredirem a ordem direta da representação. Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti foram dois artistas brasileiros muito identificados com De Chirico e outro, Iberê Camargo, chegou a ser seu aluno.
A exposição, com 45 pinturas, 11 esculturas e 66 litografias fica no MASP até maio e segue para a Casa Fiat de Cultura em Belo Horizonte.

A terceira grande exposição é a do italiano Amedeo Modigliani, intitulada "Modigliani: imagens de uma vida". São apenas 12 pinturas e 5 esculturas, mas o enfoque principal é apresentar a trajetória do artista e para isso, são apresentadas obras de pintores contemporâneos que influenciaram ou foram influenciados por ele, além de documentos que perpassam a conturbada vida do artista precocemente falecido com apenas 36 anos.
A Mostra fica no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro até maio, ou talvez junho, e depois desembarca em São Paulo no MASP.