sábado, 29 de dezembro de 2007

grupo corpo

Ficha Técnica

Ficha técnica da coreografia do Grupo Corpo, postado abaixo:

Xiquexique (Tom Zé e Zé Miguel Wisnik) Vozes: Arnaldo Antunes, Nà Ozzetti, Luanda, Nilza Maria, Tom Ze, Zé Miguel Wisnik, Paulo Tatit Sanfonas.: Toninho FerraguttiViolão e Baixolão: Gilberto Assis Bandolim: Jarbas MarizGuitarra: Marco Prado Percussão: Marcos SuzanoFontes (bochexaxado, bexiguinha no dente): Tom Zé, Neto.

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Outros equívocos...


Clarisse Lispector ?


Não te amo mais


Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis
Tenho certeza que
Nada foi em vão
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada
Não poderia dizer mais que
Alimento um grande amor
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci
E jamais usarei a frase
Eu te amo
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais...

Não, Clarisse não cometeria este poema, mas na Internet jogaram-lhe a bomba no colo. Há outro “poema” famoso, “Procura-se por um amigo”, que prefiro não reproduzir, que alguém culpou o Vinícius de Moraes por tê-lo feito. Eu digo que o poetinha é inocente.

O Instante, que Borges não só escreveria, como escreveu


EL INSTANTE:

¿Dónde estarán los siglos, dónde el sueño / de espadas que los tártaros soñaron, / dónde los fuertes muros que allanaron, / dónde el Árbol de Adán y el otro Leño? / El presente está solo. La memória / erige el tiempo. Sucesión y engaño / es la rutina del reloj. El año / no es menos vano que la vana historia. / Entre el alba y la noche hay un abismo / de agonías, de luces, de cuidados; / el rostro que se mira en los gastados / espejos de la noche no es el mismo. / El hoy fugaz es tenue y es eterno; / otro Cielo no esperes, ni otro Infierno.


Aqui, trata-se de Borges.

Equívocos literários (3)


Da mesma forma que “Instantes”, que comento na postagem abaixo, “Marionete” é um poema em prosa que não guarda nenhuma relação com o autor a quem alguém pretendeu destinar a autoria: Gabriel García Márquez. O que intriga é que os dois poemas tratam do mesmo tema, um olhar histórico e revisionista sobre si mesmo num embalo de mensagem de vida, muito em moda. Borges nunca escreveria “Instantes”; Garcia Marques nunca escreveria “Marionete” e George Bush nunca escreveria Ana Karenina.

Marionete



Se por um instante Deus se esquecesse de que sou uma marionete de trapo, e me presenteasse um pedaço de vida, possivelmente não diria tudo o que penso, mas definitivamente pensaria tudo o que digo.

Daria valor às coisas, não pelo que valem, senão pelo que significam. Dormiria pouco e sonharia mais, entendo que por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz.

Andaria quando os demais se detêm, despertaria quando os demais dormem, escutaria enquanto os demais falam, e como desfrutaria de um bom sorvete de chocolate...

Se Deus me obsequiasse um pedaço de vida, me vestiria com simplicidade, me atiraria de bruços ao sol, deixando descoberto, não somente meu corpo, mas também minha alma. Deus meu, se eu tivesse um coração.... Escreveria meu ódio sobre o gelo, e esperaria que saísse o sol.

Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre as estrelas um poema de Benedetti,e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à lua. Regaria com minhas lágrimas as rosas, para sentir a dor de seus espinhos,e o encarnado beijo de suas pétalas...

Deus meu, se eu tivesse um pedaço de vida... Não deixaria passar um só dia sem dizer à gente que quero, que a quero. Convenceria a cada mulher e homem de que são meus favoritos e viveria enamorado do amor.

Aos homens provaria quão equivocados estão ao pensar que deixam de enamorar-se quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de se enamorar. A uma criança daria asas, mas deixaria que ela aprendesse a voar sozinha. Aos velhos, a meus velhos, ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas com o esquecimento.

Tantas coisas aprendi de vocês, homens..... Aprendi que o mundo todo quer viver no alto da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a escarpa. Aprendi que quando um recém-nascido aperta com seu pequeno punho pela primeira vez o dedo de seu pai, o tem amarrado para sempre.

Aprendi que um homem unicamente tem direito de olhar outro homem de cima para baixo, quando o tiver ajudado a se levantar.

São tantas coisas as que pude aprender de vocês, mas finalmente de muito não haverão de servir porque quando me guardem dentro desta maleta, infelizmente estaria morrendo....



De autor anônimo - Atribuído a García Márquez

Equívocos literários (2)


Instantes

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros.


Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.

Seria mais tolo ainda do que tenho sido; na verdade, bem poucas pessoas levariam a sério.

Seria menos higiênico.

Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios.

Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos imaginários.

Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da sua vida. Claro que tive momentos de alegria.

Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos.

Porque, se não sabem, disso é feito a vida: só de momentos - não percas o agora.

Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas; se voltasse a viver, viajaria mais leve.

Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no começo da primavera a continuaria assim até o fim do outono.

Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente.

Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo.



Jorge Luis Borges é um daqueles escritores que é mais conhecido e citado do que propriamente lido. Um poema, no entanto, foi muito lido, tornando, repentinamente popular, o escritor argentino. Trata-se do poema Instantes. Ocorre, apenas (!), que o poema não é de Borges. Quem o conhece minimamente, não se deixaria enganar: Borges nunca escreveria um texto como este. Entretanto, o texto foi espalhado na rede como sendo de sua autoria, por uma dessas razões difíceis de explicar. Há dúvidas quanto à autoria. Já se disse que era de Nadine Stair, uma senhora norte-americana. Mas parece que também não é. O poema não aparecia nas obras completas do autor, mas, ainda assim, foi preciso que a viúva de Borges, Maria Kodama, fosse à justiça, registrar que o poema não era de Borges e que, como herdeira, não receberia pelos direitos autorais.

sábado, 8 de dezembro de 2007

Equívocos literários (1)

Nem sempre se sabe a origem, e por vezes, nem mesmo a razão, mas inúmeros equívocos literários foram espalhados mundo afora, e muitos deles alcançam quase uma condição de verdade irretorquível. Um deles é um poema que se chamaria “A caminho com Maiakovski” e que seria de autoria de Bertolt Brecht. Também já disseram ser de Maiakovsk. O poema seria assim:






Na primeira noite,
eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim: não dizemos nada.
Na segunda, já não se escondem.
Pisam as flores, matam o nosso cão e não dizemos nada.
Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e,
conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
O poema verdadeiro, vejam só, é de Eduardo Alves da Costa, brasileiríssimo de Niterói, nascido em 1936 e se chama, NO CAMINHO COM MAIAKÓVSKI, e é assim:
Assim como a humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakósvki.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz:
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio
Mas no tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares,
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo.
Por temor, aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA
!