domingo, 25 de novembro de 2007

Jogo de Cena


Acabei de assistir “Jogo de Cena” do documentarista Eduardo Coutinho. Ainda estou processando tudo que vi e ouvi: pensando o que é real e o que é criação. Parece que Coutinho está em um processo de desmistificação do real, e nos mostra, através da sua lente de documentarista, que o real pode ser manipulado. É quase como se nos dissesse que montamos a nossa interpretação cotidiana em função do olhar do outro, esse olhar que se coloca como uma câmera oculta. Esse caminho, Coutinho já vem traçando, de uma certa forma, desde Santo Forte e Edifício Máster, e também Babilônia 2000, e O Fim e o Princípio. No filme, não sabemos nunca o que é verdade ou mentira e, ainda assim, nos sentimos (me senti, pelo menos) numa sessão de terapia. Não sei se isso é sintomático.

De qualquer forma, quando subiram os créditos, senti vontade de aplaudir e o fiz, internamente e sem alaridos.

Provavelmente amanhã eu teria outras palavras para definir o filme, o que não mudaria a certeza, para mim, de que Eduardo Coutinho, reeducando o olhar, é a luz do cinema nacional.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

sertão



do sertão
(relato de viagem pelo grande sertão: veredas)


eu andava pra num chegar
e fui e fui e fui

o sertão é assim:
seca e arrepia
mata e dá voltas
cria e engole o tempo


e foi tudo menos o chão
e foi tudo mais o chão


e o diabo a refestejar
e os rios estirados feito pau torto
e os buritis a pastar
as Gerais a chamar


o medo correndo feito boi brabo
cão danado


eu, ouvindo, cri em riobaldo, mascando palavras
fumei o ar das andanças
lambi os seios das brisas atrás das veredas
matei os hermógenes sob as pedras juramentadas dos caminhos
eu andava pra num chegar ( mas há que se chegar )

e vi diadorim que se foi
feito estrela diadorim


ficou o mundo seco como uma lágrima, que caída,
se espalha entre o céu
e as palavras
retintas do livro



gê césar de paula