sábado, 25 de agosto de 2007

Milton Santos


Este país não consegue perceber.., corrigindo: a elite deste país não se permite perceber muitas das nossas preciosidades. O professor e geógrafo Milton Santos, que, preso e exilado pela ditadura militar nos anos 60, foi andar pelo mundo, lecionando na Sorbone, em Toulouse, Bordeaux, na Universidade de Toronto, no Massachusetts Institute of Technology (MIT) e também pela América Latina e África, não é, por estas bandas, muito conhecido. Milton Santos também trabalhou na Organização Internacional do Trabalho (OIT) para elaborar um trabalho sobre pobreza urbana na América Latina. Falou muitas vezes do óbvio. Uma obviedade que tem tanta luz, que ofusca a realidade de um mundo construído para enxergar a nebulosidade que escamoteia lucros exorbitantes no mesmo compasso em que cria os desalojados do mundo “globalitarista”. Milton Santos nos fala de um “óbvio” que precisa ser dito. Mas Milton Santos é muito mais do que isso. Muito mais que o brilhante intelectual que poucos por aqui conheceram. Nos seus últimos anos de vida, ele abordou muito dos aspectos econômicos, em análises esmiuçadas do papel das empresas na internacionalização do capital, como também dos fluxos financeiros e suas implicações que afetam as culturas regionais. Apresentou teorias sobre os variados aspectos do mundo contemporâneo, propondo uma globalização solidária, contrariando a globalização hegemônica. Ou seja, tudo que a nossa elite não quer alimentar discussões. Assim, é salutar ( esta palavra ainda existe?) que o cineasta Sílvio Tendler tenha realizado o filme, “Encontro com Milton Santos ou O mundo global visto do lado de cá”, um documentário que tem como base, uma entrevista feito pelo cineasta pouco tempo antes da morte do professor em 2001. O filme traz depoimentos de outras personalidades, como Noam Chomsky, Eduardo Galeano, além de imagens do discurso de José Saramago no Fórum Mundial. Milton Santos, que foi o único estudioso, fora do mundo anglo-saxão, a receber o mais alto prêmio internacional em geografia, o Prêmio Vautrin Lud (1994), o equivalente ao Nobel na geografia, merece cada tomada feita pelo filme. Pena que o filme terá vida curta e espaços restritos nas salas de cinema do país.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Santiago


Santiago escreveu 30 mil páginas, como um copista crítico, que xingava ou idolatrava personagens da história universal. Santiago vestia fraque para tocar Beethoven, quando todos dormiam. Santiago tocava castanholas. Santiago adorava Giotto. Santiago fazia arranjos florais como ninguém. Santiago rezava em latin. Santiago tinha uma memória que o surpreendia. Santiago era mordomo da família Moreira Salles. Santiago é o novo documentário de João Moreira Salles.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Astor Piazzola

Esta postagem é antiga. Volto a ela hoje (14 de fevereiro de 2010) porque percebi que o vídeo abaixo não está liberado, não sei exatamente o porquê, mas pelo seu link o acesso está livre. Coloco-o então: http://www.youtube.com/watch?v=QCmP4bEJfOg


(ver comentário atualizado acima) Amigos e amigas, posso pedir-lhes 5 minutinhos (e 31 segundinhos) de atenção? Se concordarem, cliquem no post abaixo. Nos comentários do vídeo, que podem ser lidos no http://www.youtube.com/watch?v=LTJQnCcFlvc alguém conta uma história – que deve evidentemente ser uma lenda – que uma vez em Buenos Aires, quando ainda não era famoso, Piazzolla tocava e a cada pausa ouvia alguém na platéia dizer: "hijo de puta". Ao final da apresentação, cansado de tanto ouvir xingamentos foi tirar satisfação com o espectador inconveniente e descobriu que o mesmo dizia: "Eso hijo de puta toca como Diós!". Era seu futuro amigo, Vinícius de Moraes.

Astor Piazzolla Quinteto-Adios Nonino


astor piazzolla y su quinteto tango nuevo - adios nonino

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Medos Privados em Lugares Públicos


O diretor francês Alain Resnais já não é o mesmo de O ano passado em Marienbad (começo dos anos 60); de Meu Tio da América (anos 70) ou do grande Hiroshima, Meu Amor do final dos 50. Não é o mesmo, mas é tão bom e instigante como sempre foi. O seu filme mais recente, Medos Privados em Lugares PúblicosCOEURS (Coração), no título original em francês- é mais uma demonstração da apurada lente do diretor para o olhar sobre o ser humano. Pensei em escrever uma resenha crítica, mas desisti depois de ler a que saiu na Revista Paisá, que compartilho a partir do linque abaixo: http://www.revistapaisa.com.br/anteriores/ed9/resnais.shtm



Esta semana o filme está em exibição no Frei Caneca e no Belas Artes.




sábado, 11 de agosto de 2007

Sorriso


O sorriso, palavra de derivação do latin, subrisu é apresentado, no Houaiss, como expressão facial em que os lábios se distendem para os lados e os cantos da boca se elevam ligeiramente, e que expressa alegria, amabilidade, contentamento, aprovação. Muitas vezes - por razões que fazem parte da evolução(!) humana - não conseguimos distender os lábios para os lados da boca para que se elevem, nem mesmo, por vezes, ligeiramente. Há que se fazer exercícios nas musculaturas da face de forma que a nossa evolução não atrofie os nossos lábios a ponto de não mais conseguirem se distenderem para os lados da boca para que se elevem:


Vejam alguns desses exercícios:









  • A internet nos possibilita descobrir coisas inusitadas. Inicialmente peço desculpas pela minha ignorância geográfica aos “sorridentes”, que imagino serem aqueles quem nascem em Sorriso, cidade do interior do Mato Grosso. No sítio da cidade, que pode se ver em www.sorriso.mt.gov.br/ -, pelo menos o prefeito e o vice-prefeito, distendendo os lábios para os lados da boca de forma que se elevem, demonstram estarem aptos para exercerem o poder local.

  • A poesia também sorriu muitas vezes. Manuel Bandeira nos deixou:

Um Sorriso


Vinha caindo a tarde. /Era um poente de agosto. /A sombra já enoitava as moutas. A umidade/Aveludava o musgo. E tanta suavidade/Havia, de fazer chorar nesse sol-posto. /A viração do oceano acariciava o rosto/Como incorpóreas mãos. Fosse ágoa ou saudade, /Tu olhavas, sem ver, os vales e a cidade. /- Foi então que senti sorrir o meu desgosto... /Ao fundo o mar batia a crista dos escolhos... /Depois o céu... e mar e céus azuis: dir-se-ia /Prolongarem a cor ingênua de teus olhos... /A paisagem ficou espiritualizada. /Tinha adquirido uma alma. E uma nova poesia / Desceu do céu, subiu do mar, cantou na estrada...


Drummond, em um trecho de “América”, diz ,


“Sou apenas um homem/ Um homem pequenino à beira de um rio/ Vejo as águas que passam e não as compreendo/ ...Sou apenas o sorriso na face de um homem calado”


Já a Rita, levou o meu (na verdade o do Chico) sorriso, no sorriso dela meu (do Chico) assunto. Mas, nos cotidianos, sempre temos “um sorriso pontual”. Mas o Chico foi além e em Baioque, digamos, foi ao chão:


Quando eu canto, que se cuide quem não for meu irmão/O meu canto, punhalada, não conhece o perdão/Quando eu rio/Quando eu rio, rio seco como é seco o sertão/Meu sorriso é uma fenda escavada no chão


Ferreira Gular pego em pleno ato, capturou um sorriso:


Quando/com minhas mãos de labareda/te acendo e em rosa/ embaixo/ te espetalas/quando/ com minha acesa antorcha e cego/penetro a noite de tua flor que exala/urina /e mel /que busco eu com toda essa assassina/fúria de macho? que busco eu/ em fogo/ aqui embaixo? / senão colher com a repentina/ mão do delírio/ uma outra flor: a do sorriso/ que no alto o teu rosto ilumina?


Na internet, pincei ainda uma pitada de auto-ajuda sem contra-indicações:


Um sorriso não custa nada e rende muito.Enriquece quem o recebe e não empobrece quem o dá. Dura somente um instante, mas sua recordação é quase eterna. Ninguém é tão rico que o possa dispensar.Ninguém é tão pobre que não o possa dar. Cria felicidade no lar; é sustento no trabalho; sinal visível de uma amizade profunda. Um sorriso representa repouso no cansaço; coragem no desânimo; consolo na tristeza; e alívio na angústia. É um bem que não se pode comprar, nem emprestar, nem roubar, porque só tem valor no instante em que se dá. Se encontrar, por acaso, alguém que recusa um esperado sorriso, seja generoso em dar o seu, pois ninguém tanto necessita dele como aquele que não sabe dá-lo aos demais.


Já sabemos que o sorriso tem função terapêutica, mas pesquisadores portugueses fizeram uma recente descoberta. Reproduzo um trecho da matéria:


Os sorrisos, sobretudo os femininos, exercem efeito terapêutico em pessoas depressivas, indica um estudo científico inédito realizado por um investigador português.


O trabalho, da autoria do director do Laboratório de Expressão Facial d a Emoção da Universidade Fernando Pessoa, do Porto, Freitas-Magalhães, foi reali zado de 2003 a 2006, tendo por base 160 pessoas diagnosticadas com depressão (80 homens e 80 mulheres) com idades entre 25 e 60 anos. Segundo as conclusões, a apresentar em Janeiro de 2007 na reunião anual da Sociedade para a Personalidade e a Psicologia Social (SPSP) em Memphis, Tenn essee (EUA), o sorriso "largo" (quando os lábios deixam ver os dentes) e o "supe rior" (que mostra apenas os dentes de cima) são os de maior efeito terapêutico. No estudo foram mostradas aos participantes oito fotografias com quatro tipos de sorriso de homem e outros tantos de mulher que, além daqueles dois, in cluíam os "fechado" e "da face neutra", de efeitos foram considerados residuais. "O efeito dos tipos de sorriso largo e superior é mais intenso e freque nte nas mulheres do que nos homens, independentemente do género de quem os exibe ", sendo que os das mulheres exercem mais efeito do que os dos homens, refere o estudo.(...)


Portanto, mulheres, para o bem da humanidade, exercitem os lábios de forma que se distendam para os lados e os cantos da boca se elevem, expressando, amabilidade, contentamento, aprovação. Embaixo, então, a minha contribuição, com o sorriso mais lindo que eu conheci: